Após as primeiras semanas de quarentena, o brasileiro está mais estressado, mais ansioso, entediado e está comendo mais.
Ainda assim, ele tem a sensação de estar mais saudável.
Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pela startup de tecnologia Behup, com 1.561 participantes de todas as classes sociais em todas as regiões do país.
De acordo com o levantamento, feito na última semana, 53,8% dos participantes disseram estar um pouco mais ou muito mais estressados, 60,3%, um pouco mais ou muito mais ansiosos e 59,7%, um pouco mais ou muito mais entediados.
Em paralelo, 63,2% sentem que a saúde está melhor ou muito melhor e 39,1% se sentem um pouco mais ou muito mais saudáveis.
O aparente contrassenso, na avaliação do diretor de Public Affairs da empresa, o cientista social Danilo Cersosimo, deve-se ao fato de que, de um lado, a vida no confinamento impôs um freio brusco à rotina muitas vezes massacrante dos moradores das grandes cidades.
Muitos deles não precisam mais perder horas no trânsito ou no transporte público e não têm de acomodar uma série de obrigações durante o dia: correr para levar as crianças à escola e depois ir ao trabalho, aproveitar a hora do almoço para resolver uma pendência no banco - um rol de tarefas que fazem parecer que as 24 horas do dia não são suficientes para dar conta de tudo.
Por outro lado, o brasileiro está preocupado com a própria saúde e com a dos familiares, uma parte está tendo que equilibrar o home office com os cuidados com os filhos e a casa, e a maioria sente uma forte pressão financeira diante da desaceleração da economia e da incerteza no mercado de trabalho.
Tudo isso é fonte de estresse e ansiedade.
Temor pelo futuro
Entre os participantes da pesquisa, 56% disseram que o volume de trabalho remunerado na última semana está menor ou muito menor.
Do total, 35,9% disseram ter condições financeiras para ficar em isolamento por mais 7 dias; 17,2%, por mais 15; e 15,1%, por mais 30 dias.
"E a questão econômica deve apertar nos próximos 15 dias", pondera o cientista social.
O fechamento do comércio e dos serviços considerados não essenciais em muitas cidades, visto como uma medida importante para tentar reduzir a velocidade de contágio do novo coronavírus e um meio de evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado, teve impacto negativo forte sobre empresas de todos os portes.
Diante da queda nas receitas, muitas demitiram funcionários e, mesmo diante da renegociação de prazos com credores, temem ir à falência.
O Brasil tem ainda um nível elevado de informalidade - trabalhadores normalmente não assistidos pelo sistema de proteção social, sem direito a seguro-desemprego, por exemplo.
O pacote de estímulo anunciado pelo governo para tentar fazer frente à recessão que se desenha prevê um auxílio emergencial de R$ 600 para esse grupo. A expectativa é que o governo anuncie o calendário de pagamento nesta segunda (06/04).
Maioria apoia medidas de isolamento
Ainda assim, 72% afirmaram ser favoráveis ou muito favoráveis às medidas de isolamento decretadas por governos em vários Estados, enquanto 12,1% responderam ser desfavoráveis ou nada favoráveis.
"Existe essa noção de que a gente vai ter que tomar um remédio extremamente amargo (para superar a pandemia)", avalia Cersosimo.
Nesse sentido, o risco que o novo coronavírus representa à saúde individual e coletiva também está claro para a maioria.
Do total, 62,1% afirmaram acreditar que o número de casos de covid-19, doença causada pelo vírus, vai aumentar ou aumentar muito no Brasil e 64,1% se dizem preocupados ou muito preocupados com a possibilidade de serem infectados.
Quase metade (45,9%) se declarou preocupada com a saúde dos idosos da família.
Comendo mais e se exercitando menos
Pouco mais de um quarto, 27%, afirmaram estar em quarentena há mais de uma semana e menos de duas, 31,5% estão há mais de duas e a menos de um mês, enquanto 15,8% não estão em isolamento social.
Entre os participantes, 15% disseram não ter saído de casa de jeito nenhum na última semana. A grande maioria, 63,3%, foi apenas à feira ou ao mercado.
Fonte:Camilla Veras Mota - @cavmotaDa BBC News Brasil em São Paulo