Depois de acompanhar à distância a apresentação da proposta conjunta de Flamengo e Fluminense ao Governo do Estado do Rio de Janeiro para administrar o Maracanã até outubro, o Vasco decidiu se manifestar oficialmente. O clube havia sugerido que os quatro grandes do Rio de Janeiro se unissem na missão, mas não teve retorno e viu um novo modelo surgir sem ser informado sobre a aliança.
A reportagem apurou que na reunião da última quarta-feira, na sede da Federação de Futebol do Rio (Ferj), foi feito um esforço para que os clubes tivessem protagonismo repartido, mas principalmente o Flamengo deseja mais poder no comando do estádio. Depois do encontro, era esperado que Fla e Flu fizessem propostas separadas. A parceria gerou surpresa.
- Nos preocupa muito, o Vasco não concorda com esse tipo de cessão de direitos. O Vasco não irá aceitar esse tipo de direcionamento. O Maracanã é um patrimônio do povo, foi construído com dinheiro da sociedade e não pode ser usado de maneira exclusiva por um dos clubes. Vamos buscar os nossos direitos, na Justiça ou em outro lugar - disse Campello.
Segundo o presidente do Vasco, houve uma reunião na Casa Civil para tratar o assunto. O clube foi questionado sobre sua intenção de participar da gestão do Maracanã e respondeu positivamente. No entanto, o dirigente havia demonstrado preocupação com os prazos colocados em pauta pelo Governo do Rio de Janeiro.
- Eles apresentaram um cronograma em que a atual gestão deveria sair no dia 19, e no dia 21 teríamos a final do Campeonato Carioca. Achei um tempo muito pequeno para debater o assunto, especialmente em um estádio da grandeza do Maracanã. Não tivemos do estado nenhuma informação sobre custos, operação. Eles disseram que era o tempo que se tinha para iniciar essa gestão temporária - disse.
A forma de conduta para a apresentação da proposta de Flamengo e Fluminense também foi questionada por Campello. Segundo ele, o prazo de uma semana não seria suficiente para a apresentação de um modelo de gestão do Maracanã. Além disso, disse que o Flamengo em momento algum abriu de ter o controle do estádio.
- Preocupados com a proximidade da data limite, buscamos os clubes para conversar, e conversamos com o Flamengo, que nos apresentou uma proposta nada isonômica. Até aceitamos que tivessem uma participação maior nos resultados, uma vez que era esperado que realizassem um número maior de partidas no estádio, mas não abriam mão de ter o controle dessa gestão. Obviamente, o Vasco se recusou a se submeter. Eles, então, disseram que iriam procurar o Fluminense. Provocamos uma reunião com todos na federação e o Flamengo não se pronunciou. O Fluminense disse que estava preparando uma proposta individual, mas o que se viu foi uma proposta em conjunto - explicou.
Houve também um questionamento sobre mudanças no processo para que os interessados fizessem suas propostas. No entanto, Campello não soube especificar quais seriam as alterações feitas pelo Governo.
- São exigências de índices financeiros. Inicialmente, nenhum clube estaria em condições de participar desta concorrência, mas a partir das mudanças o Flamengo passou a ter condições. Isso nos causou bastante estranheza. É difícil montar um projeto em um tempo tão pequeno. Ao menos que se saiba com antecedência o que é preciso. Não lembro de cabeça. Precisa pegar o balanço do clube e fazer o cálculo. Isso partiu do governo, foi ele quem estabeleceu as regras do jogo. Existiam condições, e em um segundo momento essas condições foram alteradas. Não quero afirmar (que houve informação privilegiada), mas a gente acha muito estranho - comentou.
A participação do Fluminense no acordo com o Flamengo foi alvo de críticas de Campello. Para o dirigente, o Maracanã é uma ferramenta importante para negociar contratos comerciais e, por isso, não aceitou que apenas um dos clubes tivesse o controle da gestão.
- Sendo um chaveiro pendurado na calça deles? O Vasco tem que participar da gestão, o Vasco não quer esmola de querer jogar em estádio, o Vasco tem estádio. Se o Fluminense se submete a isso, é uma escolha do Fluminense. O Vasco não aceitou ser subalterno, não participar das decisões - disse.
O prazo para a apresentação de propostas terminou nesta quinta-feira. O Governo do Estado anunciará o resultado nesta sexta-feira até as 17h (de Brasília). O que se discute, neste momento, é a gestão pelos próximos seis meses. Neste período, o Governo vai avaliar o futuro a longo prazo do estádio. Neste período de breve concessão, o Maracanã sediará partidas da Copa América e de competições nacionais.
Rompimento entre Governo e consórcio
No último dia 18, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, anunciou o rompimento com o consórcio que gere o Maracanã, liderado pela Odebrecht.
Segundo Witzel, foi determinante para a decisão o não pagamento da outorga pelo consórcio, além do mesmo não ter apresentado garantia de quitação de débitos em caso de contratempo. As dívidas desde maio de 2017 chegam a R$ 38 milhões.