A primeira, no dia 6 deste mês, logo após a tensa reunião em que foi confirmado no cargo, acabou sendo relevada, mas não esquecida pelo Planalto. A situação, contudo, ficou insustentável após a fala de Mandetta ao Fantástico, no domingo (12), na qual voltou a criticar o comportamento de Bolsonaro. O ministro já havia avisado que suas reações seriam proporcionais aos atos do presidente.
No sábado (11), eles visitaram juntos as obras de um hospital em Goiás, ocasião em que Bolsonaro cumprimentou apoiadores e se uma aglomeração. Irritado e disposto a marcar posição, Mandetta disse ao Fantástico que a população "não sabe se escuta o ministro ou o presidente".
Criticado inclusive por parlamentares e governadores que o apoiavam, Mandetta reconheceu o erro e submergiu. Na terça-feira (14), apareceu com o semblante carregado na coletiva diária de atualização dos números sobre a pandemia. Amuado, pouco falou. Ao retornar ao gabinete, comunicou à equipe que sua demissão era questão de tempo.
Veja a seguir as razões para sua queda:
Alinhamento com adversários políticos
Mandetta começou a cair em desgraça com o presidente em 13 de março. Na véspera, o ministro havia participado da live semanal com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Ambos usavam máscara e pareciam alinhados no discurso de contenção social. Naquela mesma noite, o presidente fez um pronunciamento em cadeia de rádio e TV aconselhando os apoiadores a evitarem aglomerações nos protestos marcados para o domingo seguinte, 15 de março, contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
No dia seguinte à live, Mandetta viajou a São Paulo, onde participou de uma entrevista coletiva ao lado do governador João Doria (PSDB), maior desafeto de Bolsonaro. Mandetta anunciou a liberação de quase R$ 100 milhões em recursos federais para o Estado combater a pandemia e insistiu na adoção de medidas de isolamento. A partir dali, o presidente e assessores próximos passaram a nutrir crescente desconfiança do ministro. Nas semanas posteriores, Mandetta também se aproximou de outros antagonistas de Bolsonaro, como os presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).
Provocações sucessivas e insubordinação
A tolerância do presidente com o que considera provocações de Mandetta chegou ao fim no domingo. Na entrevista concedida pelo ministro ao Fantástico, da TV Globo, Bolsonaro e seus asseclas enumeraram várias alfinetadas. A primeira foi a escolha da emissora, alvo de sucessivos ataques do Planalto. Mas Mandetta foi além. Citou idas à “padaria”, dois dias após Bolsonaro parar em uma padaria de Brasília, cobrou um discurso unificado do governo, reclamou de fake news e previu um pico de contágio em maio e junho. Desferidas em série, as declarações confrontam opiniões e atos do presidente nas últimas semanas.
A entrevista fez Mandetta perder o suporte do núcleo militar. Responsáveis por convencer o presidente a não demiti-lo na semana passada, os generais de terno enxergaram no episódio uma irrefreável quebra de hierarquia. Para eles, Mandetta já havia agido assim no dia 6, quando fez várias referências indiretas e provocativas a Bolsonaro logo após a tensa reunião em que acabou confirmado no cargo.
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